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Observatório Octogonal

Eis o fim do ciclo. Eis o início de outro. Para a roda, é só mais uma volta comum. Mas nossas marcações nos fazem segurar os momentos até poder soltar novamente. As vezes nos agarramos até sangrar, nos obrigando a abandonar a condução da intenção. Mas as vezes, caminhamos de bom grado ao lado das memórias e nos despedimos com delicadeza. E não por coincidência, é assim que eu digo adeus. Tudo que está escrito aqui abaixo, são fragmentos de textos do último ano. Então, para que eu me sinta concluido, mesmo com ideias inacabadas, irei revelar o que me rodeou até chegar aqui. --- "A morte da sombra" Chegou a minha vez. Estou escrevendo como um ancião e, ao mesmo tempo, cru. Eu me quebrei. Caminhei cegamente pelo mesmo chão a 10 anos. Evitei escadas, cordas, rampas, placas e qualquer outra coisa que pudesse me direcionar a um lugar além. O espaço foi diminuindo, os passos ficaram curtos, as voltas substituídas por retas. Uma consequência das vendas que coloquei, uma por cima da o

Cento e tantos dias

Eu estou quebrado. Na verdade, estou estilhaçado. Hoje eu consigo ver todos os meus pedaços espalhados por aí. Sendo pisoteados, chutados e varridos em meio a poeira da escuridão. Eu mesmo me quebrei. Percebi que estava ruim como um alimento vencido, fazia mal mas, mesmo assim, continuei. Me arrependi. E como o arrependimento é doloroso. Isso prova o quanto eu não sou fiel a mim mesmo. Pois, cometer erros, falhas seguidamente catastróficas, mostra que não tenho capacidade de fazer o óbvio e o mínimo. Agora a minha dor é proporcional. A mente está com os pilares fracos, finos e falsos. Sustentando mais peso a cada dia, derivados da culpa que nunca dorme, de uma tristeza que nunca some e uma saudade que nunca morre. O corpo falha. Está cheio. Transborda. Me sinto gasto, velho, passado. As vezes nem sinto. Tudo se arrasta. Da água ao pão. Do ódio às lágrimas. Do pensamento à fala. Das palavras ao silêncio. Da paz ao desespero. E eu desisti porque compreendi. Não corri. Não liguei. Não me

Profundidade

Meu barco está afundando. E sei que o problema é tão profundo quanto o próprio mar. Não é culpa da água, dos remos ou dos pregos que ainda resistem em segurar as madeiras cansadas. Mas é como se não fosse minha culpa. Algo além, uma força oculta que empurra tudo para baixo. Mas antes de chegar na sólida solidão do chão, ainda faz questão de me ver debatendo braços e palavras em vão.

Esqueça

Esqueça. Conquistar a paz exterior é como vencer uma guerra sozinho. É impossível, é inviável, mas mesmo assim, insistimos em estar lá. Sabe aquele pensamento de que tudo irá melhorar um dia? O pensamento de que a fase ruim vai passar e que terá o que quer? Esqueça. Eu esqueci. Já estou condenado. Amarrado na primeira linha junto ao surto, raiva, loucura e solidão. Cheguei nessa posição sem escolha. Acordei e assim fiquei. Não há como escapar ou negociar. Ao meu lado, centenas de corpos exalam os gritos de vidas que foram dilaceradas ao som de talheres, relógios, gotas, pássaros e outros sons inofensivos, aparentemente. Eu pertenço a essa tortura. Tenho o mesmo cheiro, as mesmas expressões, os mesmos pensamentos. Me castigo e castigo outros. E todas essas correntes ao meu redor, bem... jamais irão se livrar de mim. Somos pilares equivalentes, entrelaçados mentalmente, afundando sem cerimônia em um mundo que pedem para esquecer da gente.

27

O ciclo em que vivo é o aspiral de uma mola jogada no chão.  A cada volta eu me abandono. Fico sentado em um lugar que nunca fui, ouvindo as ondas de um mar que nunca conheci, fingindo respirar um ar solitário com um pôr do sol que não é capaz de me iluminar. Por aqui, é como se já estivesse me afogando. A imaginação como barco da realidade. E lá vai. Perguntando nos cantos da memória, revirando anotações, tentando recriar sensações melancólicas típicas de um dia meramente especial. Como uma composição que ignora o instrumento, um relógio que não aprendeu a marcar o tempo, a mente separada do corpo, do sentimento. E assim como a ponta da mola, estarei enterrado em poucas voltas.

Velho

Quanto tempo leva para você retornar onde começou? À sua primeira casa, sua primeira rua. Ver as obras que nunca foram terminadas, os portões que nunca foram pintados. Lembrar das suas preocupações que eram ignoradas, mas mesmo agora que cresceu, você também as ignora. Apenas uma volta, sem permanecer. Uma tentativa de respirar um novo ar com velhos pulmões. Tentando contar cada lamento por aqueles que se foram da sua vida, e que continuam vivos mas tem você como morto. Sabe que esta velho a muito tempo,  só precisa esperar o corpo lhe alcançar. Depois de tantos questionamentos, sua vida virou uma dúvida. Por mais que encontre inúmeras respostas, tão pouco sabe a quais perguntas elas pertencem. E retorna. Esquecido, se esquecendo.  Casas sem números, ruas sem nomes. Uma mente pobre, sem janelas para ver que tudo ao seu redor se desmanchou. O relógio parou de carregar os seus fracassos. Contando o tempo por passos, mesmo não indo longe, todo o caminho que ignorou, o afundou. Não enxerga

Ação e reação.

Toda ação tem uma reação. Toda decisão tem uma consequência. Eu passei quase a minha vida inteira ouvindo essas frases, e mesmo assim, nunca as realmente conheci. Sempre vi o futuro como imediato. O próximo segundo para respirar, o novo dia o qual a dor diminuirá, a próxima semana para recomeçar. Um futuro tão longe quanto meu próximo corte de cabelo. Infelizmente, para mim, o espelho é lento demais para contar a verdade, principalmente quando não se olha para si. Eu sou esquecido. A minha mente não tem gavetas ou arquivos de memórias para que eu possa revisita-las, senti-las e me emocionar com o que vivi. Apenas acredito que fiz coisas interessantes, mas não relevantes. Coisas sem movimento, sem vento. Rimas pobres que ninguém se dará o trabalho de notar, anotar. Eu estagno fácil. Me debruço sobre o relógio e me hipnotizo com as engrenagens que sustentam a pressa. Passo a vida assim... e ninguém me acorda. Eu sou esqueci