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Observatório Octogonal




Eis o fim do ciclo. Eis o início de outro.

Para a roda, é só mais uma volta comum. Mas nossas marcações nos fazem segurar os momentos até poder soltar novamente. As vezes nos agarramos até sangrar, nos obrigando a abandonar a condução da intenção. Mas as vezes, caminhamos de bom grado ao lado das memórias e nos despedimos com delicadeza. E não por coincidência, é assim que eu digo adeus.

Tudo que está escrito aqui abaixo, são fragmentos de textos do último ano. Então, para que eu me sinta concluido, mesmo com ideias inacabadas, irei revelar o que me rodeou até chegar aqui.

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"A morte da sombra"

Chegou a minha vez. Estou escrevendo como um ancião e, ao mesmo tempo, cru.

Eu me quebrei. Caminhei cegamente pelo mesmo chão a 10 anos. Evitei escadas, cordas, rampas, placas e qualquer outra coisa que pudesse me direcionar a um lugar além.

O espaço foi diminuindo, os passos ficaram curtos, as voltas substituídas por retas. Uma consequência das vendas que coloquei, uma por cima da outra, para não ver as dores que habitavam em mim.

Eu ignorei os sinais. Esses que foram claramente entregues e eu, ainda assim, não...

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Sem título


Eu fui da malha ao pó. Não há costura para a minha dignidade. Eu tive tempo para aprender

mas eu gastei com falsa sobriedade.

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"O outro um"


As cores se recusam a interagir.

Como o sangue que se nega a fluir.

Está tudo opaco.

O que vejo é um reflexo do meu sentimento.

E até mesmo o vento empurra a solidão.

Tudo ficou frio...

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"Saudade"


Saudade é um conjunto de emoções.

Saudade é sentir culpa.

Saudade é sentir dor.

Saudade é chorar.

Saudade é lembrar.


Você imagina o que deveria ter feito, o que deveria ter falado e como deveria ter se comportado.


Saudade é ter raiva de si.

Saudade é ter medo de continuar.

Saudade é esquecer de mim.

Saudade é lembrar.

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"O que eu diria"


Infelizmente nenhuma palavra ou atitude poderia mudar o que houve.

O peso do passado será um fardo que carregarei para sempre. As vezes mais leve, as vezes mais pesado, mas sempre constante.

O perdão, na verdade, não é para mim. Me perdoar não me trará paz. Perdoar não me trará conforto. Mas, talvez, a ajude, enfim, se libertar.

Por tudo o que já fiz. Do que falei, de como me comportei e como neguei a presença. As coisas que falei, como olhei e deixei sem sorrir, sem o toque, sem o amor.

Hoje eu sinto tanta falta, que seu abraço seria como um delírio. E mesmo vivendo no castigo, talvez a sua presença, seria apenas um risco.

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Sem título


Agora eu posso respirar a vida, encher meus pulmões com tempo.

Agora eu vejo as estrelas, elas são minha única luz.

Mas você me mostrou um caminho, você esteve aqui no dia a dia.

Eu sei que você está longe de mim, mas meu coração sente você muito perto...

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"Calma"


Eu me imploro calma.

Apelo às frases que escrevi para eles.

Me aconselho como os aconselhei.

E ninguém é testemunha do meu desfavor.

Sabe, nós estamos em terras diferentes, mas você nem sequer olha para o meu horizonte.

Eu acordo frio, respirando poeira, cansado desses sentimentos e tudo o que tem a me dizer é sobre você e o seu dia comum.

Não que eu ache suas novidades antigas ou seus problemas minúsculos, mas no meio de todas essas palavras que não requerem paladar, traga pelo menos algum sentimento para degustar.

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Sem título


As vezes a gente acorda mais leve.

Talvez um pouco menor, um pouco menos pior. Recolhido, retraído. É leve, mas ainda sentimos.

Nem percebemos nossos pedaços jogados por aí. Bem longe de onde deixamos pela última vez. Quando nos descascamos para secar os prantos dos que se escondiam nos cantos da solidão.

Estávamos lá. Pegamos na mão e conduzimos. Deixando um pouco de nós, sem pensar que esse pouco era um cultivo.

Mas quem iria regar essa dedicação? Recolher nossas sementes e plantar no coração?

Bem, se algum dia florescer, então não foi nada em vão.

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"Evento"


Existe um momento, um evento no futuro que me espera.

Tudo está planejado, decorado e confirmado. 

Mas essa data não me prende, não pressiona, não questiona e não me custa. 

Esse dia vai chegar e libertar. As pessoas vão lembrar e esquecer.

Talvez meu último dia de amanhecer.

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Sem título


Através dos dias e noites, palavras e sons, destruí e reconstruí emoções variadas dentro de mim.

Essea, me levam a momentos reflexivos sobre o que devo fazer a respeito dos sentimentos e seus conceitos.

Uma vez que me sinto acorrentado, ouvindo do outro lado da porta alguém passear nas cores, enquanto me consumo em dores de forma silenciosa e, muita vezes, mentirosa.

Quando me deito, o que me move mentalmente é a imaginação. Eu desgrudo do chão e visualizo sempre a mesma cena, uma mistura de motivos que demonstram o significado de uma vida plena.

Há luz, há paz e há você. Eu sou o chão, o céu e a árvore. Você se abriga em meus braços, flores como mãos entrelaçadas em seus dedos. E presumo que esse cheiro seja seu.

Há sons e há silêncio, há coração e respiração. Você, como visão de uma paixão.

Mas como uma onda, ela vem e me quebra por dentro, vai e leva a dor. Acordo leve, opaco e tudo se repete.

Me tranquei em um lugar que eu mesmo criei. Me libertar não é uma obrigação.

Com o tempo, eu alcançarei a chave, mesmo que do outro lado da porta, continue a mesma escuridão.

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"Desisti"


Desisti de contar as vezes que adiei o fim.

Deve ser equivalente ao número que me arrependi.

Sei que estou dentro de um círculo, ansioso para terminar e começar.

Fingir surpresa quando passar pelos mesmo lugares, repetir movimentos e emoções.

Estou disposto a caminhar na roda interior, verdadeiramente, como um tipo de dom.

Dos lados, nada além de impressões de cordas amigas.

Mas eu conheço esses nós, fiz um e está no teto da antiga casa.

Já está na hora?


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"Reorganização"


Muito do que havia por aqui se foi.

As paisagens que eu habitava morreram. Os caminhos pelos quais eu caminhava, desapareceram.

As pessoas que eu conversava, me esqueceram.

E por mais que eu esteja em círculos, dramatizando nesse palco sozinho, ainda falta muito para uma verdadeira apresentação.

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"28"


Já houve tantas versões de mim, que não me lembro de nenhuma realmente boa. Nem sei se a que estou vivendo hoje, de alguma forma, pode se considerar assim.

Eu continuo procurando alguém para me apoiar, percebo que me encosto em sombras que não estão perto de mim. A reflexão me rodeia, as formas se manipulam e eu continuo parado, esperando se aproximarem, mas ninguém vêm, são apenas palavras e eu ouço as últimas fases do eco.

Ainda há muito barulho no silêncio. Ouço tudo aquilo que falei. E mesmo na escuridão, vejo tudo o que fiz como punição do que causei.

Existe algo que eu deveria saber sobre...

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Sem título


Eu gostaria de dizer que fiquei triste mais vezes do que você sabe.

Mas agora você ouviria minhas palavras uma última vez?

E eu, diria tudo que não disse?

Enterre as minhas lembranças no jardim do esquecimento.

Deixe tudo lá.

Pindure as decepções nos galhos secos, e as dores, as deixe para o vento levar.

Finalmente sairá do labirinto das minhas palavras.

Se torne pena, se torne asa, se torne vôo, se torne memória.

Fim de uma história.

E eu... voltarei para de trás das cortinas, sorrateiramente, esperando por outra vida para arruinar novamente.

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Sem título


Me sinto pequeno, encolhido, limitado.

Deitado, em repouso, penso em que tipo de doente eu sou? Que tipo de doença eu sou?

Tenho sono mas não durmo. Tenho fome mas não como. Tenho sentimentos que escondo. Fico em silêncio, no silêncio. Fecho os olhos no escuro. Eu paro quando tudo para.

Está quente demais, frio demais. Me cubro, descubro. Levanto, deito. Acendo e apago. Fico esperando, contemplando dores que vem e vão. Pensamentos que martelam e abraçam. Prévias de sonhos que não vejo por inteiro.

Por aqui, não há mais nada verdadeiro.

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"Além do meu sonho"


O único lugar que eu te vejo é nos meus sonhos. E acho bom que seja só por aqui.

Por mais ruim que seja acordar sem você, pelo menos acordei. Por muitas vezes o sonho é ruim. Acontecem coisas que, se fossem reais, seriam, definitivamente, um verdadeiro caos.

Prefiro manter você na minha mente como vi e convivi. Manter como amo e sempre amei, dessa forma, sempre amarei.

Não quero substituir, mesmo que involuntariamente, algo que me traz boas lembranças, por imagens breves e superficiais de uma outra versão sua, a qual não conheço, não sei o que faz ou o que pensa. Uma versão sem mim.

Para o resto da minha vida, permanecerá como o meu encanto, um descanso da solidão, dentro da imaginação. A paz do meu espírito, o qual resolve meus conflitos e me deixa bem. 

Um conforto que guardarei como meu último amor.

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A dor se foi mas eu continuo sangrando.

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Sem título


Somos pontes entre céu e inferno. Pendemos para os lados durante a vida, equilibrando decisões com problemas de recompensa.

As vezes tudo desmorona cedo. As vezes tarde. Pode ser que tudo mude no final com seu próprio esforço ou alguém exploda seus pilares e você desabe sem ter a chance de se reerguer.

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Sem título


Eu esqueci dos meus sonhos. Me perdi.

Não sei o que deve ser feito, só lembro de momentos que não ajudam a me encontrar.

Tudo o que penso agora, é que tenho medo de estar certo.

Estou balançando em poucas linhas, variando o equilíbrio entre me soltar ou subir. Pelo menos é como me engano, fingindo que não estou me afogando no mesmo pantano há tantos anos.

No quinto dia eu vou mudar. Pela quinta vez, a quinta mentira, a quinta.

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Sem título


Esse senso de urgência me mantém em êxtase.

Os pensamentos se confundem. Ideias se perdem. Sonhos se quebram. Restam apenas alguns sentimentos que moldam vontades inobedientes.

Eu descarrego em estado imóvel. Retorno pelo contraponto do relógio.

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Sem título


Eu não minto pra mim, pelo menos não mais. Pelo menos não sobre ela.

O resto não importa.

Eu continuo admitindo fraqueza, medo e curiosidade, mas essa última, é apenas uma fagulha de alucinação. Sabemos que o resultado de vê-la, seria catastrófico demais.

O pouco que eu tenho de lembrança, volta de vez em quando. Se mistura com coisas que não sei se aconteceram com coisas que eu crio. Há pedaços de memórias que sei ser reais, pois elas me afetam.

Infelizmente, não consigo ouvir o passado, as vozes são confusas, eu não consigo distinguir os sons.

Mas no meio de tanta confusão, o coração é o que determina minha imersão. A dor, o amor, a paixão que ainda existe, conduz uma vida isolada que, de brinde, me solve dos problemas.

O que me resta é criar poemas para nunca serem lidos por alguém além de mim. Então nem sou obrigado a rimar. Só amar. 

E como disse no começo, não minto pra mim. E como isso ficará para sempre só aqui, então, a verdade, é que é verdade.

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Então, para acabar com palavras muito bem conhecidas entre nós, acho justo deixar no final, o trecho final do nosso ciclo:

"Nós nos movemos em circulos, equilibrados o tempo todo no reluzente fio da navalha.
Uma esfera perfeita, colidindo com o nosso destino. A história acaba onde começou."

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